CASCATEIROS DE AVINTES
Para utilizar uma expressão do antigo Cascateiro de Avintes, Sr. José Pereira da Silva, o "Canhota", Avintes é ela própria uma autêntica cascata natural. De facto, esta freguesia do concelho de Vila Nova da Gala, que se estende pelos morros da confluência do Douro e do Febros, como que contida entre dois rituais de água, (e a água é um elemento constante na vida das cascatas), guarda em si muitos dos elementos e características que encontramos nessas representações populares dos festejos de S. João.
Não lhe falta o declive, o encastelado, as encostas musgosas e cobertas de vegetação. Estão lá as igrejas tradicionais donde a procissão pode irromper a qualquer momento, as velhas casas senhoriais e as casas de lavoura, as pontes e os moinhos, os recantos bucólicos e ribeirinhos tão calhados para colocar um pescador ou uma lavadeira. Nem é preciso, pois já lá se encontram. Da mesma forma os largos e terreiros para tocar a banda da música, que também existe, ou dançarem e cantarem as rusgas e a gente festiva.
As ruas estreitas de aglomerado e a ruralidade de campos e canastros. E lugares propícios, de soberbas vistas, para pôr o trono dos santos a dominar a representação. Há por lá disso tudo. E mesmo me atreveria a dizer, em termos comezinhos, que se quiséssemos fazer de conta que o Jordão era o Febros ou o Douro, o ministrar do sacramento do baptismo por S. João poderia perfeitamente ter acontecido ali num dos dois rios, no areinho de Avintes junto ao Douro, ou num recanto do Febros, sem que saísse a cena bíblica com mossa do cenário.
Por outro lado, festas e romarias sempre ali as houve, e o S. João tem sobejas razões para ali se sentir como em sua casa, haja em vista a dedicação que aquelas gentes lhe votam, entre elas e em primeiro lugar os cascateiros
Não é por isso de estranhar que Avintes guarde e mantenha esta carinhosa manifestação popular, todos os anos recriada, para contentamento e orgulho legitimo dos seus, e encanto dos olhos de quem vê e assim os pode encher de colorido e sonho. Sobretudo as crianças que das muitas escolas e lugares acorrem em peregrinação às casas dos cascateiros. Nem é de estranhar que mais de cinquenta por cento das cascatas que se fazem em Gala e participam nos concursos realizados sejam de Avintes. Esta terra é bem o reduto desta actividade do artesanato popular. O último? Em desaparecimento? Advêm estas interrogações da falta de apoios oficiais, de estruturas que amparem e garantam a continuidade desta bela tradição.
Registe-se a este respeito, que alguns sinais positivos têm surgido, a transmitir esperança, por exemplo da Associação Cultural dos Amigos de Gala promovendo concursos, dos Bombeiros Voluntários e Junta de Freguesia de Avintes, da Casa Museu Teixeira Lopes, de Vila Nova de Gala, e, do Centro de Artes Tradicionais, fazendo encomendas aos cascateiros e convidando-os a expor nos seus espaços. Mas é pouco ainda para o que seria necessário, sobretudo se tivermos em conta a idade dos cascateiros, quase todos já avançados nos anos, e o futuro desta manifestação popular, tão eloquente, tão cheia de vida e de cor.
Torna-se urgente fazer escola, transmitir o conhecimento para que ele perdure. E ai, ca novo nos saem do ouvido as palavras do referido decano dos cascateiros: "O que eu gostaria de fazer era ensinar, mas era preciso que o Estado me pagaste".
A Cascata é, na sua cosmogonia, tomada no seu conjunto, como um pequeno mundo, um mundo em muito criado e recriado á semelhança do existente na realidade, (os figurantes que encarnam as diferentes profissões e situações, os morros e as encostas rasgadas pelos rios e que constituem o retrato fiel da paisagem da região a que pertence), e aqui e ali um toque da imaginação bailadeira, uma situação nova, um engenho ou maquineta capaz de pôr em movimento tudo aquilo.
Acerca das cascatas, o Dr. Luís Chaves, no seu trabalho "As Cascatas do S. João no Porto", quando estabelece a comparação entre elas e os Tronos de Santo António, refere: "Comparando a Cascata com o Trono, lembro-me de ter visto "cascatas" reduzidas á presença da imagem de S. João, a outras com o homenageado no alto ou no centro e figuras populares, desses bonecos de barro, que no Porto e em Gala se fizeram, e continuam a fazer com persistência em Gala".
Cremos no entanto, que se é verdade que S. João é a figura mais importante e a essencial das cascatas, ele por si só, posto num trono, não constitui uma verdadeira Cascata. Porque a cascata, no significado da manifestação popular que representa, (os festejos em honra de S. João), implica uma ideia de conjunto, todo um ambiente de cenário natural e figurantes unidos e participantes na festividade do seu Santo maior. Rio e encostas, romeiros e festeiros, que de uma romaria se trata, pelo menos estes, e o Santo, claro, símbolo chave, são elementos essenciais.
Cremos no entanto, que se é verdade que S. João é a figura mais importante e a essencial das cascatas, ele por si só, posto num trono, não constitui uma verdadeira Cascata. Porque a cascata, no significado da manifestação popular que representa, (os festejos em honra de S. João), implica uma ideia de conjunto, todo um ambiente de cenário natural e figurantes unidos e participantes na festividade do seu Santo maior. Rio e encostas, romeiros e festeiros, que de uma romaria se trata, pelo menos estes, e o Santo, claro, símbolo chave, são elementos essenciais.
Aí, depois, é a imaginação de cada um, de cada cascateiro, que faz o resto, compondo e decorando conforme a sua feição, escolhendo entre Moinhos de água ou de vento, pontes no rio, conferindo a este mais ou menos curvas, integrando diferentes ofícios na representação, quer seja o Sapateiro ou o Padeiro, o Ferreiro ou o Moleiro, ou a grande variedade de Vendedeiras. Inventando e reinventando cenas, cantos e recantos, quanto mais ricos e possuidores de vida, melhor. Seja uma Eira onde se malha o centeio, ou Rusgas dos festeiros com balões, os pescadores a pescar á cana, ou outros e diversos motivos.
E neste buscar de pormenores, no recortar de toda um infinidade de detalhes que nessa festa existem e na leitura que deles se faz, (no que significam e no papel que desempenham no mundo real), que se realiza o maior quinhão da criatividade da arte do cascateiro. Por isso se torna difícil de fazer, a tal enumeração destrinçadora dos elementos essenciais e não essenciais nas cascatas, neste caso nas Cascatas de Avintes. Contudo, pensamos considerar como presentes em todas as Cascatas de Avintes, os seguintes elementos:
- No cenário: o Rio e as encostas, o Musgo e a Verdura.
- Completando a estrutura do forro: Ramos de carvalho e Balões para o S. João.
- Nas figuras de profissão: o Moleiro, a Lavadeira, o Pescador, as Vendedeiras e o Pastor.
- Nas figuras de conjuntos: a Procissão, a Banda de música e as Rusgas.
- Nas figuras de humor: o Cagão e a Leiteira apanhada a urinar no canado do leite.
- Nas construções: o Trono de S. João, o Castelo, as Casas de Lavoura e Igrejas ou Capelas de Avintes.
- Nos engenhos de movimento: o Moinho de vento ou de água, a Fonte, o Chafariz, S. João a baptizar Cristo.
Existem teias de ligação entre todas estas personagens e elementos. O cenário, retrato, paisagem natural da região a que pertencem as cascatas. O musgo, ramos de carvalhas e a verdura têm também a ver com todas as tradições de aromas e ervas mágicas, (como a erva-cidreira, o alho porro e o manjerico, por exemplo), indissoluvelmente ligadas ao S. João e utilizadas no decurso da noite feiticeira, e até talvez mesmo com a ruralidade do Santo festejado, que viveu num ambiente rústico, campesino.
Os três Santos, que têm a sua festa popular, com destaque para o S. João, que é o celebrado nas cascatas.
"Cascateiros de Avintes" - Ignacio Pignatelli
José Pereira da Silva - O Canhota
António Fonseca Pinto - O Nabiça
José Joaquim F Almeida - O Tuta
Manuel S Teixeira - O Neca da Chiquita
António R Marques - O Gaioleiro
Artur Fernandes Pereira
Joaquim Gonç Silva - O Moura
Israel Alberto P Nunes
Murilo
David Manuel S Carvalho
Rui Manuel Oliveira Marques
Escola EB 1 da Pousada
Nelson Fernando C Guedes
Escola EB 1 da Cabanões
Grupo Mérito Dramático Avintense
GRANDES CASCATEIROS
José Pereira da Silva - O Canhota