A maior parte
das capelas que aqui referiremos pertencem às quintas.
Começamos pela
capela da Nossa Senhora dos Prazeres a qual é bastante simples. O seu altar
não representa um estilo definido devido à mistura de talhas que o compõem.
É constituído por quatro colunas torcidas encimadas por capitéis e no
centro encontramos um nicho emoldurado com a pintura da Virgem a fugir
para o Egipto. Crê-se que esta capela já existiria no séc. XVI, por isso,
poderemos talvez inclui-la no estilo maneirista da época.
Já a capela da
Quinta de Fiães, comparada com esta, assume urna magnificência digna de
destaque. Dedicada a Santo Inácio de Loyola possui uma fachada barroca e um
altar em estilo-neoclássico com quatro colunas, duas das quais, falsas,
rematadas por capitéis de influência jónica. Ao centro uma pintura a óleo
representando o milagre da Virgem quando apareceu ao santo patrono, nas duas
mísulas laterais temos a imagem de Santo Inácio e de S. Francisco Xavier.
Mas
a mais bela é, sem dúvida, a da Quinta da Gandra. Em estilo barroco,
elegante, exibe na cúpula uma magnífica cruz com resplendor ladeada por
fogaréus, a rosácea, sobre a porta, é ornamentada por um fino cordão.
No interior,
encontramos um maravilhoso retábulo com duas colunas de capitéis coríntios
e mísulas laterais. Ao meio, a imagem da Nossa Senhora do Carmo, cujo nicho
está emoldurado com fina talha e folhas de acanto, por baixo a Senhora das
Dores. É de
salientar a beleza do tímpano, tipicamente setecentista.
A capela de invocação
a S. Brás da Quinta do Paço hoje já não existe, como já referimos,
apesar de nós ainda a termos conhecido.
Possuía um altar que
devia remontar a finais do séc. XVII trazido do paço primitivo para o
novo. Ao centro, existia a imagem de S. Brás ladeada por colunas decoradas com uvas, folhas de vide e cabeças
de querubins, grande profusão de folhas de acanto e cordões de flores.
Das
capelas que não fazem parte das quintas, temos como mais antiga a do Senhor
dos Aflitos situada no adro da igreja. Modesta, esta capelinha tem uma porta
redonda com uma cruz a rematá-la. Lá dentro, há um pequeno altar com
uma coluna jónica que tem no capitel a data de 1662, sobre este, assenta
uma cruz com a imagem de Jesus Cristo esculpida na mesma pedra, em baixo, no
fuste, está a Senhora das Dores. Os dois anjos de madeira e a pia da água
benta são os únicos elementos decorativos desta capela.
Durante a epidemia de cólera
foram recolhidas neste lugar de culto metade das ossadas da freguesia de
Avintes. Quanto a ter sido a primeira igreja, temos as nossas dúvidas e
nenhuns dados possuímos sobre o assunto.
Existe ainda perto da Pedra da Audiência,
no lugar de Quintã, uma outra capela do Senhor dos Aflitos.
Passamos
agora à capela do Senhor do Palheirinho e às palavras de Gondim sobre a
origem da mesma.
"Nos fins do século
passado (XVIII), viviam naquele lugar, em um casebre pequeno e arruinado
um palheirinho - duas bondosas mulheres, solteiras, já velhas e em
grande cheiro de santidade.
Possuíam estas
mulheres, que eram irmãs, um registro do Senhor de Matosinhos, com o qual
costumavam apegar-se, invocando-o com muita devoção nas suas contínuas
orações.
Das suas súplicas
particulares, passaram depois a interceder por outras pessoas, de modo que o
povo atraído pela vida exemplar das duas virtuosas velhinhas começou a
pouco e pouco de ir encomendar-lhes rezas e promessas, as quais elas faziam
imediatamente, recolhendo-se depois de explicada a pretensão de quem lá
ia procurá-las.
Não tardou que o
sentimento do maravilhoso se apoderasse do povo, tão propenso sempre a
atribuir-lhe certos factos; e a fama dos milagres feitos pelo misterioso
registro começou a correr mundo, juntamente com o nome das pobres velhas,
que eram tidas na conta de taumaturgas.
Cumpre notar, porém,
que elas, longe dos ridículos e estúpidos processos das feiticeiras,
faziam consistir toda a força da sua popularidade, na fé que suplicavam a
Deus o alívio ou remédio das aflições alheias; e talvez, na sua invejável
simplicidade, vissem nos desenlaces, que por acaso fossem favoráveis às
suas súplicas, o resultado das rezas empregadas, e não o desfecho complexo
de efeitos, cujas causas estavam muitas vezes já determinadas.
Quando esta ignorância
é sincera e despretensiosa, fruto apenas duma vida inocente e por assim
dizer primitiva, torna-se tocante e respeitável, ainda mesmo aos olhos da
severa crítica moderna. Por isso a memória das pobres velhas do
Palheirinho tem tanto mais direito a ser respeitada, quanto é certo que
elas, longe de abusar da crença popular para a transformar em estúpida
crendice, o que lhes seria fácil e de bem mais lucrativa especulação,
seguiram sempre em linha recta os simples preceitos da caridade cristã.
Conquanto nunca
pedissem remuneração alguma pelos serviços que prestaram, todos lhes
ofereciam qualquer espórtula grande ou pequena, espórtulas que elas não
queriam para si, e empregavam em honra do seu precioso registro.
Quando viram que
dispunham já de quantia suficiente, empreenderam então a construção da
capela que hoje existe, e com a ajuda e boa vontade dos devotos, conseguiram
levar avante o seu intento. Foi isto no ano de 1790, segundo reza a data
gravada por cima da porta principal.
Tinha-se então
acabado, havia pouco, a reedificação da igreja actual; e as imagens dos
santos, que estavam já velhas foram substituídas por outras. Afim de
evitar grandes despesas, aproveitaram para a capela do Palheirinho duas
das melhores imagens da igreja velha, que foram um Santo António, que lá
está pintado e retocado de novo e uma Santa Quitéria, que um escultor
qualquer transformou, com facilidade um pouco irreverente, em Santa Apolónia
apenas com a substituição dum braço por outro, com uma tenaz e um
dente.
Para a imagem central
é que convergiu todo o empenho das pobres velhas, que a mandaram fazer
nova, gastando nela o resto das esmolas que cresceram da capela. É uma grande imagem de Cristo
crucificado, a imitar o Senhor de Matosinhos.
Quando veio, foram os
padres esperá-la ao Esteiro, e trouxeram-na em procissão daí para cima até
à capela, onde se fez uma grande festa no dia da sua instalação.
Ainda hoje se guarda na sacristia uma grossa e pesada cruz, imitando o pau
de cedro, que agora costuma espetar-se enfeitada no meio do largo quando há
procissão, e que era a primeira cruz em que a imagem vinha pregada. Como o
camarim se tinha feito menos largo do que o preciso para acomodar uma imagem
daquelas proporções, despregaram~na dessa cruz, e substituíram-lha por
outra de lata, em que hoje está.
Até a sineta da
capela foi oferecida, por esmola de promessa. O Çabricante encarregado
de fazer o sino grande da igreja, prometeu ao Senhor do Palheirinho uma
sineta, se a sua obra saísse perfeita da fundição. Como o sino saiu um
dos melhores que por aí há, cumpriu então a promessa, que de bem pouco
valeu, porque passados alguns anos a sineta foi roubada.
Parece que daí em
diante, habitando junto da sua capela, aonde iam orar todos os dias, com uma
imagem semelhante à do senhor de Matosinhos, as velhas do Palheirinho
deveriam redobrar de influência os seus milagres.
Pois nada disso.
Muito ao contrário do que era de esperar, nunca mais a crença popular teve
o entusiasmo da fé que tinha até aí, com as velhas da capela. Os milagres
começaram a diminuir, que foi coisa a olhos vistos; de forma que as pobres
mulheres, que pouco tempo também duraram, pressentiram, já próximas da
morte, a decadência da sua obra.
Com a morte delas,
extinguiu-se de todo a popularidade da crença; e há muitos anos já que
ninguém fala dos milagres do Senhor do Palheirinho".
Mais tarde a capela
passa a ser administrada pela Junta da Paróquia e posteriormente é
incorporada nos bens da abadia.
As
alminhas
O pintor
Alvares de Andrade, que no reinado de D.
Filipe 1 de Portugal trabalhava para a corte, destacou-se na pintura
religiosa, sobretudo pelos seus painéis que representavam,
sistematicamente, as almas dos defuntos a arder nas chamas do Purgatório.
De Lisboa, estas representações espalharam-se pelo resto do país e foi
então que o povo começou a designá-las por "Alminhas". Toda a
gente as conhece e em todas as freguesias encontramos testemunhos deste
fervor religioso. Avintes não foge à regra com um exemplo de
"Alminhas" bastante bonito que se encontra no lugar de Campos,
mandadas erigir por José Cardoso em 1851, tendo no seu interior um
Cristo pintado na cruz de granito.
Os cruzeiros
Uma
outra prova da fé popular são os cruzeiros, que também se encontram por
toda a parte e foram, alguns deles, o centro a partir do qual se
desenvolveram os aglomerados populacionais. Outros há que deram origem a
capelas, como se supõe ter sido o caso da do Senhor dos Aflitos no adro da
nossa igreja.
Em Avintes destacamos o
cruzeiro situado no lugar de Avintes, tão antigo como tosco, talhado em
granito, e o do Senhor dos Aflitos que já referimos.
Temos ainda o Cruzeiro
do Alferes levantado em 1737, no cruzamento da rua 5 de Outubro com a rua da
Escola Central. O seu nome deriva do facto de ter sido um antigo alferes que
o mandou construir. No alto do pedestal encontra-se a imagem da Senhora do
Bom Sucesso.
O
Padrão Vermelho, que dá o nome ao lugar, é um cruzeiro sem nada que mereça
destaque a não ser a inscrição que se encontra na pedra: