As
festas populares hoje ligadas ao calendário e manifestações
religiosos têm, a maior parte delas, uma raiz profana que remonta,
pelo menos, à época da ocupação romana. As Junónias, ou festas
celebradas em honra da deusa Juno, realizavam-se no sexto mês do ano,
e acabaram por se difundir por quase todo o Império Romano, incluindo
a Lusitânia.
Hoje,
como cristãos, celebramos outros valores representados pelos três
Santos Populares, cujas festas têm lugar em Junho, mês das colunas
da igreja.
Mas
antes de falar das festas em honra de S.to António, S. João e S.
Pedro, vamos começar pela do S.
Brás, que decorria no dia 3 de Fevereiro na capela da
Quinta do Paço. Gondim diz-nos acerca dela: "No dia 3 de
Fevereiro, apesar de não ser dia santificado, havia na quinta do Paço
pomposa solenidade, de missa cantada e sermão; e tal homenagem lhe
prestava a freguesia, que da igreja paroquial conduzia o pároco a
imagem do santo debaixo do pálio cantando em procissão a ladainha.
De tarde havia grande arraial, a que concorria muito povo das
freguesias vizinhas.
Ao
aparato solene que dava àquela festividade a então poderosa casa dos
Almeidas, acrescia ainda a fama de milagroso que tinha o advogado das
moléstias da garganta, com quem o povo tinha especial devoção; de
forma que a romaria do Paço não era só uma das mais concorridas em
romeiros, mas também uma das mais rendosas em ofertas, das que então
havia por esta redondeza".
Acabou
esta festa quando o padre da altura, Manuel Ribeiro Teixeira da Silva,
resolveu tirar partido também destas ofertas e comprou uma imagem de
S. Brás para a igreja paroquial onde, no dia 2 de Fevereiro, se
passou a realizar a festa, fazendo concorrência desleal à
primitiva.
Desde
aí, passa a haver duas festas ao S. Brás, uma ao novo e outra ao
velho. No entanto, apesar dos esforços que o padre fazia para atrair
os romeiros à sua festa eles continuavam a ir à do dia 3, dizendo
"S. Brás? o velho: que o novo é rapaz...".
Mas,
água mole em pedra dura... lá acabou o abade por conseguir o seu
intento. Hoje, esta festa já não se realiza.
A
seguir vem uma das festas de que mais gostamos, porque anuncia a
Primavera exorcizando os frios do Inverno. Referimo-nos à Páscoa e
sobretudo a um ritual que ainda se cumpre nos nossos dias, que é o
compasso. Constituído por quatro homens, um dos quais leva a cruz
enfeitada de flores, outro a sineta, o terceiro leva o balde da água
benta e o último a bandeja das oferendas.
Na
nossa terra o compasso tem um cerimonial próprio. Para avisar que
querem a sua visita, as pessoas abrem a porta e espalham à entrada
folhas verdes e flores. Ao entrarem, os quatro elementos rezam com a
família a oração da Aleluia, depois dão a beijar a cruz ao chefe
de família e ele, por sua vez, faz o mesmo aos seus. Por fim,
aspergem a casa, para a abençoar e proteger do mal, recolhem as
ofertas e vão, tocando a sineta, até à próxima família onde o
ritual se repete.
O
quinto domingo da Quaresma é o dia dedicado à festa
do Senhor dos Passos, cuja manifestação principal é a
magnífica procissão que percorre as artérias mais importantes da
nossa freguesia.
Chegados
a Junho, temos a festa
da Nossa Senhora dos Prazeres, no domingo a seguir ao
S.to António, à qual já nos
referimos, e logo vem o S. João.
Em
Avintes, tal como em toda a região de influência portuense, este é
o santo mais querido e o mais popular de todos, o que arrasta para as
ruas milhares de pessoas, partilhando duma alegria colectiva que vale
a pena viver.
Concurso
de cascatas de S. João - em
nossa casa, semanas antes do grande dia, todos nos afadigávamos na
construção da cascata, sem a qual não há S. João, depois era
preciso preparar o balão para quando chegasse a meia-noite e,
precisamente a essa hora, outro ritual, bem típico de Avintes
decorria: as raparigas iam colher a semente do feito (feto).
Depois de a terem apanhado, punham-lhe debaixo um guardanapo de olhos.
com uma moeda de doze vinténs, de prata, em cada ponta, e um sino-saimao
no meio. À meia-noite, sente-se um grande barulho e uma voz, que é o demónio,
dizer "Colhes tu, ou colho eu?"
Se
a rapariga disser "Colhes tu", nunca mais aparece, mas se
disser "Colho eu", então cai uma semente, e com ela
encontram-se as pessoas que se querem, as quais vão para onde a gente
desejar. A este propósito temos a quadra "Meu amor não vás a
Avintes/nem botes para lá teu jeito/Olha que as moças de lá/Trazem
a semente do feito!"
Mas
a noite é de folia, por isso, vamos para a festa!
No
segundo domingo de Julho realiza-se a festa
da Nossa Senhora das Necessidades que já em 1747,
segundo as palavras do padre Cardoso, era invocada por todos os
moradores deste bispado pelos muitos prodígios, e milagres, que obra
continuamente, por cujo motivo vem a maior parte de todos estes
contornos em romaria render-lhe graças".
Devido
à popularidade desta romaria, a imagem da santa subiu ao trono na
nossa igreja. Foi o dia escolhido para a Comunhão Solene das crianças,
por todo o lado se vêem vestidinhos brancos, fatinhos e papillons, as
famílias, todas orgulhosas dos seus pequeninos e, por fim, o farto
repasto a durar pelo dia e, às vezes, noite dentro. Quando se
levantam, é para ir ver o fogo e ouvir a música ao adro, todo
enfeitado e iluminado como mandam os três dias de festa.
O
Nosso Senhor do Palheirinho, no primeiro domingo de
Agosto, prenuncia o fim do Verão e encerra o ciclo das festividades
religiosas. Nesse dia, sai a procissão que, tal como a dos Senhor dos
Passos, é a atracção principal. Estas festividades duram três
dias, começando na sexta-feira e acabando na segunda.
Muito
jovem ainda, mas nem por isso menos importante, é a Festa
da Broa, que se realiza desde 1988, na última semana de
Agosto. Surgiu na sequência dum discurso do nosso conterrâneo José
Vaz, proferido na Sede do Clube Recreativo Avintense. A ideia foi
alimentada e concretizou-se no ano seguinte. Assumindo três
vertentes, a social, a popular e a cultural, esta festa poderá a
breve trecho representar a identidade de Avintes, como já representa
o factor do nosso grande desenvolvimento passado e o orgulho intemporal
da nossa terra - a broa!
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