No
que respeita à igreja paroquial, nada se refere à data da sua fundação,
a que hoje existe foi construída em 1787, para substituir a outra, era então
abade João Jacome do Lago. Esta construção está recheada de
acontecimentos pitorescos, como lemos nuns apontamentos de que nos dá
noticia Gondim.
"O frontispício
da igreja de Avintes ainda é o da primeira igreja que se fez. Esta era
pequena; acabava onde hoje é o altar das Almas, e tinha o arco onde hoje é
a porta travessa. Sei isto, porque as grades que estão agora à porta da
sacristia, estavam por baixo da porta travessa, e quando se tiraram,
viram-se ainda os alicerces do arco.
Quando fizeram esta
igreja (1787), quiseram que ficasse o frontispício velho, e deitaram
abaixo o resto da igreja, fazendo esta à feição do frontispício e
portanto estreita. Foi isto a causa de ficar tolhida: ficou muito comprida,
e sem largura; e ainda além disso fizeram as paredes muito grossas, para
meter dentro os altares.
Depois que a acabaram
conheceram o engano em que caíram e quiseram-na deitar abaixo para fazer
outra.
Tinha morrido o abade
fidalgo, de Viana, João Jacome do Lago e levou a abadia o reitor de S. Félix
da Marinha, Manuel Ribeiro Teixeira da Silva. Este mandou dizer por alguém
que o lá foi visitar, que já sabia que o povo estava descontente com a
igreja que ficara defeituosa; mas que a não pintassem até ele vir, para
ver a volta que se lhe poderia dar, prometendo desde logo 600.000 réis para
a obra.
Era então juiz da
cruz Manuel Lopes da Costa, de Quinhão, e tinha ordem duns cunhados
brasileiros de dar dois contos de réis para a igreja.
Para além deste
contrato, nada mais nos aparece acerca da igreja antiga que, tal como a nova
era de invocação ao S. Pedro e não possuía naves. Os altares, em número
de cinco, distribuíam-se da seguinte forma: o altar-mor onde se encontrava
a imagem do padroeiro ladeado por Nossa Senhora e o Santíssimo Sacramento,
no corpo da igreja os altares de S. Gonçalo, da Nossa Senhora do Rosário e
da do Evangelho, do Santo António e do Senhor da Boa Morte.
No dia 17 de Agosto
de 1758 foi assinado no mosteiro de Pedroso um contrato com Manuel dos
Santos, sineiro de origem espanhola. para que construísse para a igreja
antiga, evidentemente, um sino de doze arrobas, o preço seria o mesmo pago
pela igreja de S. Cosme, dez mil réis e o sino velho seria fundido. Nada
mais se soube deste sino.
A igreja nova, orientada para ocidente, possui uma fachada modesta, mas
com linhas arquitecturais bastante harmónicas. Ao meio entre as pilastras,
apresenta quase no vértice do frontispício um nicho, onde se encontra a
imagem de S. Pedro, por baixo, a janela de linhas curvas do coro e a porta
principal sobre a qual se destaca, por entre os ornamentos, as insígnias
pontificais do padroeiro.
Ao lado ergue-se a
torre, um pouco desalinhada da fachada, rematada por uma pirâmide
quadrangular, onde se encontram 4 sinos de fabrico recente. Todo o edifício
é coberto de azulejos antigos
O interior revela uma certa falta de simetria dos altares colaterais,
especialmente o da Senhora do Rosário, perto do arco cruzeiro, pois
quando a igreja foi construída havia só, para além do altar-mor, mais
quatro laterais perfeitamente simétricos. Num dia de festa, quando se
celebrava a missa cantada, o altar da Nossa Senhora do Rosário incendiou-se
com a chama duma vela e quando o reconstruíram fizeram-no como ele se encontra
hoje, desobedecendo a todas as leis da simetria. Os outros altares que violam
a harmonia do interior desta igreja são o de Santa Ana e o do Senhor dos
Passos, os dois últimos a serem construídos.
A igreja foi pintada pelo bracarense Feliciano Joaquim da Costa, que morreu
à mão dos franceses em 1809. Essa pintura ainda perdura, apenas o tecto já
foi restaurado e reformado. O antigo era de aduelas de castanho pintadas
de branco e tinha, sobre as cornijas laterais, ornatos coloridos entre os
quais se salientavam doze escabelos de fantasia, sobre seis destes
encontravam-se anjos sentados com flores e palmas na mão, e nos outros
depunham urnas de flores, ao centro abriam-se três grandes florões.
Com
o tempo e o pó, a pintura entre as aduelas começou a ficar
preta, foi então que a confraria mandou estucar o tecto. Esse
estuque tem ao centro um livre aberto, com um versículo de S. Mateus:
Tu es Petrus, et supe~ hanc petran aediflcabc
eccies iam meam, et portaE inferi nonproevalebut adversus eam.
Em portugues:
Tu és Pedro e sobre esto pedra edificarei a minho igreja, e as portas do
irfer. no não prevalecerão contro ela.
Em
relação à disposição dos altares hoje, ela é um pouco diferente da
antiga nomeadamente o altar da Nossa Senhora das Necessidades que foi
ocupado pelo S. João, tendo aquele subido ao alto do trono devido à
popularidade da sua festa.
A pintura do tecto da
capela-mor já não existe. Segundo Gondim, consistia num fundo azul onde se
encontravam as chaves pontifícias, o báculo e a tiara, aludindo ao S.
Pedro. Actualmente, no centro do estuque temos apenas o símbolo do S.
Pedro. Os azulejos de fundo azul que subsistem são da fundação da igreja.
O
interior é decorado de rica talha dourada, merecendo especial relevo a do
altar da capela-mor e a dos altares do transepto, as quais são magníficos
exemplares de talha joanina. Esta não é excessivamente exuberante, mas
elegante e equilibrada, os três altares são encimados por uma sanefa de
madeira rendada. O púlpito, de base granítica, possui uma balaustrada
simples de madeira. Quatro grandes janelas e o óculo da fachada deixam entrar
a luz natural, fazendo realçar a beleza e harmonia desta igreja.
Quanto ao
recheio, merece menção especial uma imagem em madeira da Nossa Senhora com o
Menino, provavelmente do séc. XIV, bem como a de Santa Ana, do mesmo
material, datada do séc. XVIII.
No que respeita
ao órgão, foi comprado em estado de ruína à Ordem Celestial da Santíssima
Trindade a 26 de Agosto de 1787 por dez moedas, é provável que tenha sido
trazido da capela da igreja dos Terceiros Dominicanos.
Na sacristia
encontram-se os retratos a óleo de três avintenses falecidos no Brasil e
que, no seu testamento, não esqueceram as confrarias mais importantes, bem
como os de alguns párocos que por lá passaram.
Esta igreja sofreu
algumas vicissitudes. Pelo menos dois assaltos, um dos quais em 1808, quando o
general Junot mandou saquear todas as igrejas. Não nos surpreendamos,
portanto, se no Museu do Louvre ou noutro encontrarmos obras de arte portuguesas.
O outro foi por volta de 1850 e ainda hoje não se sabe quem foram os
assaltantes, os objectos roubados eram sobretudo alfaias religiosas. Apesar
disso, a nossa igreja é ainda hoje uma das mais ricas em objectos de culto.
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No que respeita à igreja paroquial, nada se refere à data da sua fundação,
a que hoje existe foi construída em 1787, para substituir a outra, era então
abade João Jacome do Lago. Esta construção está recheada de
acontecimentos pitorescos, como lemos nuns apontamentos de que nos dá
noticia Gondim.
"O frontispício
da igreja de Avintes ainda é o da primeira igreja que se fez. Esta era
pequena; acabava onde hoje é o altar das Almas, e tinha o arco onde hoje é
a porta travessa. Sei isto, porque as grades que estão agora à porta da
sacristia, estavam por baixo da porta travessa, e quando se tiraram,
viram-se ainda os alicerces do arco.
Quando fizeram esta
igreja (1787), quiseram que ficasse o frontispício velho, e deitaram
abaixo o resto da igreja, fazendo esta à feição do frontispício e
portanto estreita. Foi isto a causa de ficar tolhida: ficou muito comprida,
e sem largura; e ainda além disso fizeram as paredes muito grossas, para
meter dentro os altares.
Depois que a acabaram
conheceram o engano em que caíram e quiseram-na deitar abaixo para fazer
outra.
Tinha morrido o abade
fidalgo, de Viana, João Jacome do Lago e levou a abadia o reitor de S. Félix
da Marinha, Manuel Ribeiro Teixeira da Silva. Este mandou dizer por alguém
que o lá foi visitar, que já sabia que o povo estava descontente com a
igreja que ficara defeituosa; mas que a não pintassem até ele vir, para
ver a volta que se lhe poderia dar, prometendo desde logo 600.000 réis para
a obra.
Era então juiz da
cruz Manuel Lopes da Costa, de Quinhão, e tinha ordem duns cunhados
brasileiros de dar dois contos de réis para a igreja.
Para além deste
contrato, nada mais nos aparece acerca da igreja antiga que, tal como a nova
era de invocação ao S. Pedro e não possuía naves. Os altares, em número
de cinco, distribuíam-se da seguinte forma: o altar-mor onde se encontrava
a imagem do padroeiro ladeado por Nossa Senhora e o Santíssimo Sacramento,
no corpo da igreja os altares de S. Gonçalo, da Nossa Senhora do Rosário e
da do Evangelho, do Santo António e do Senhor da Boa Morte.
No dia 17 de Agosto
de 1758 foi assinado no mosteiro de Pedroso um contrato com Manuel dos
Santos, sineiro de origem espanhola. para que construísse para a igreja
antiga, evidentemente, um sino de doze arrobas, o preço seria o mesmo pago
pela igreja de S. Cosme, dez mil réis e o sino velho seria fundido. Nada
mais se soube deste sino.
A igreja nova, orientada para ocidente, possui uma fachada modesta, mas
com linhas arquitecturais bastante harmónicas. Ao meio entre as pilastras,
apresenta quase no vértice do frontispício um nicho, onde se encontra a
imagem de S. Pedro, por baixo, a janela de linhas curvas do coro e a porta
principal sobre a qual se destaca, por entre os ornamentos, as insígnias
pontificais do padroeiro.
Ao lado ergue-se a
torre, um pouco desalinhada da fachada, rematada por uma pirâmide
quadrangular, onde se encontram 4 sinos de fabrico recente. Todo o edifício
é coberto de azulejos antigos
O interior revela uma certa falta de simetria dos altares colaterais,
especialmente o da Senhora do Rosário, perto do arco cruzeiro, pois
quando a igreja foi construída havia só, para além do altar-mor, mais
quatro laterais perfeitamente simétricos. Num dia de festa, quando se
celebrava a missa cantada, o altar da Nossa Senhora do Rosário incendiou-se
com a chama duma vela e quando o reconstruíram fizeram-no como ele se encontra
hoje, desobedecendo a todas as leis da simetria. Os outros altares que violam
a harmonia do interior desta igreja são o de Santa Ana e o do Senhor dos
Passos, os dois últimos a serem construídos.
A igreja foi pintada pelo bracarense Feliciano Joaquim da Costa, que morreu
à mão dos franceses em 1809. Essa pintura ainda perdura, apenas o tecto já
foi restaurado e reformado. O antigo era de aduelas de castanho pintadas
de branco e tinha, sobre as cornijas laterais, ornatos coloridos entre os
quais se salientavam doze escabelos de fantasia, sobre seis destes
encontravam-se anjos sentados com flores e palmas na mão, e nos outros
depunham urnas de flores, ao centro abriam-se três grandes florões.
Com
o tempo e o pó, a pintura entre as aduelas começou a ficar
preta, foi então que a confraria mandou estucar o tecto. Esse
estuque tem ao centro um livre aberto, com um versículo de S. Mateus:
Tu es Petrus, et supe~ hanc petran aediflcabc
eccies iam meam, et portaE inferi nonproevalebut adversus eam.
Em portugues:
Tu és Pedro e sobre esto pedra edificarei a minho igreja, e as portas do
irfer. no não prevalecerão contro ela.
Em
relação à disposição dos altares hoje, ela é um pouco diferente da
antiga nomeadamente o altar da Nossa Senhora das Necessidades que foi
ocupado pelo S. João, tendo aquele subido ao alto do trono devido à
popularidade da sua festa.
A pintura do tecto da
capela-mor já não existe. Segundo Gondim, consistia num fundo azul onde se
encontravam as chaves pontifícias, o báculo e a tiara, aludindo ao S.
Pedro. Actualmente, no centro do estuque temos apenas o símbolo do S.
Pedro. Os azulejos de fundo azul que subsistem são da fundação da igreja.
O
interior é decorado de rica talha dourada, merecendo especial relevo a do
altar da capela-mor e a dos altares do transepto, as quais são magníficos
exemplares de talha joanina. Esta não é excessivamente exuberante, mas
elegante e equilibrada, os três altares são encimados por uma sanefa de
madeira rendada. O púlpito, de base granítica, possui uma balaustrada
simples de madeira. Quatro grandes janelas e o óculo da fachada deixam entrar
a luz natural, fazendo realçar a beleza e harmonia desta igreja.
Quanto ao
recheio, merece menção especial uma imagem em madeira da Nossa Senhora com o
Menino, provavelmente do séc. XIV, bem como a de Santa Ana, do mesmo
material, datada do séc. XVIII.
No que respeita
ao órgão, foi comprado em estado de ruína à Ordem Celestial da Santíssima
Trindade a 26 de Agosto de 1787 por dez moedas, é provável que tenha sido
trazido da capela da igreja dos Terceiros Dominicanos.
Na sacristia
encontram-se os retratos a óleo de três avintenses falecidos no Brasil e
que, no seu testamento, não esqueceram as confrarias mais importantes, bem
como os de alguns párocos que por lá passaram.
Esta igreja sofreu
algumas vicissitudes. Pelo menos dois assaltos, um dos quais em 1808, quando o
general Junot mandou saquear todas as igrejas. Não nos surpreendamos,
portanto, se no Museu do Louvre ou noutro encontrarmos obras de arte portuguesas.
O outro foi por volta de 1850 e ainda hoje não se sabe quem foram os
assaltantes, os objectos roubados eram sobretudo alfaias religiosas. Apesar
disso, a nossa igreja é ainda hoje uma das mais ricas em objectos de culto.
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